Não sei direito se acredito mesmo em olho gordo. É claro que forças do
mal existem, assim como gente com baixa vibração e energia ruim. Acho
que a gente atrai certas coisas e pessoas, é por isso que volta e meia é
importante dar aquela faxinada no coração, nas relações e na mente.
Minha vida sempre foi meio gangorra, montanha-russa, congestionamento.
Em alguns momentos a coisa se aquieta, sossega. E daqui a pouco o
negócio todo recomeça com tudo. Não sei direito se eu procuro os
problemas, o que sei é que pego muito fácil energia de lugares e
pessoas. E nem sempre essas energias são do bem. Infelizmente, ainda não
aprendi a me proteger.
Ando em uma maré de azar (será?) impressionante. Já tomei banho de sal
grosso, mas acho que não resolveu muito. Vou começar a mastigar o tal
sal pra ver se potencializa o efeito protetor. Saí por uns dias de
férias, para relaxar, descansar e curtir um lugar bonito com meu marido.
Na mala, filtro solar, biquínis, livros e a promessa de sossego. Estava
tudo perfeito até o dia em que fizemos um passeio até a Ilha Saona,
onde foi filmado o clássico "Lagoa Azul" (quem não lembra da linda
Brooke Shields na Sessão da Tarde?). Na hora de descer da lancha torci o
pé. Doeu tanto que segurei o choro, sabe como é, também tinham crianças
no passeio, eu não podia fazer feio. Fiquei forte, curti a praia,
voltamos para o hotel só no final do dia. Na volta, um trecho de lancha e
outro de ônibus. Dentro do ônibus, o ar-condicionado estava a mil. E
pra completar dormi com o cabelo molhado. Resultado: no outro dia
acordei com dor de garganta e nariz entupido. Mesmo assim fui firme,
forte, resfriada e manca para a piscina tomar drinks coloridinhos. Na
hora de entrar na piscina, cataploft, caí de bunda, sentada. Comecei a
rir loucamente. Desgraça pouca é bobagem, pensei. E de quebra ganhei um
hematoma preto na nádega esquerda. Ainda bem que tenho uma senhora
bunda, completei o pensamento. No outro dia, acordei bem mais manca, bem
mais gripada, bem mais pobre (comprinhas, comprinhas, comprinhas!), bem
mais gorda (comilança, comilança, comilança!). Mas eu estava feliz.
Inexplicavelmente feliz. Então, me perguntei: será que nós atraímos as
coisas para as nossas vidas ou tudo é acaso? Sinceramente, eu não sei.
Eu estava tão em paz, tão de bem comigo, aproveitando cada segundo e no
final da viagem a coisa começou a degringolar (quando voltei descobri
que torci os ligamentos, o médico disse que foi muita sorte não ter
rompido. Resultado: uma semana com pé e perna enfaixados). Não atraí
nada disso (até onde sei). Não tenho nada de santa, nem a cara, mas não
sou o tipo que faz mal pra alguém, pelo contrário, se posso fazer o bem
eu faço com gosto e vontade.
Na volta, sentei entre meu marido e uma mexicana. Viemos conversando
sobre a economia, política, educação, saúde e segurança do México. Ela
falava do país dela, eu do meu (até que meus ouvidos começaram a doer
demais, depois que voltei descobri que ambos estavam inflamados). Em um
determinado momento, a mexicana comentou que eles são super devotos da
Nossa Senhora de Guadalupe. E pensei: me falta, às vezes, um pouco de
fé. Eu acredito, sim, em Deus. Acho que é uma força superior, maior que
tudo e todos. Mas não frequento a igreja, missa me dá sono. Quando eu
viajo tenho o costume de visitar igrejas, mas não gosto daquele ritual
todo da missa. Além disso, sempre me perco no "graças a Deus" e outros.
No meio de tudo isso, começou uma turbulência danada. Em seguida, vácuo.
Você sabe o que é isso? Uma espécie de montanha-russa aérea. O avião
parece que vai cair. Aconteceu três vezes. Minha mão começou a suar e
quando vi estava pedindo pelo amor de Deus pra Nossa Senhora de
Guadalupe e todos os santos. Pensei que aquela seria a hora. E passou
pela minha cabeça, muito rápido, o quanto sou grata. Pela vida que
tenho, por quem carrego dentro do peito, por quem me dá amor, por quem
eu amo. Nada, nada mais importa. O que vale é o amor, é ele que move o
mundo, é ele que nos faz melhor. Conheci um casal no hotel em que
estávamos. Ambos com 61 anos. Ele, emergente confesso, viveu uma vida de
drogas, bebida e traição. E fez questão de deixar claro que o dinheiro
vem antes de tudo. Olhei para aquele senhor com uma mistura de pena e
raiva. Não, meu senhor, o dinheiro é consequência de suor, trabalho,
luta. Nada é de graça. Dinheiro compra jóias, compra carros, compra
casas, compra viagens, compra sapatos, compra bolsas, compra pessoas.
Mas não compra um sorriso verdadeiro, um olhar sincero, um coração que
bate muito rápido quando te vê, não compra um amor que dura até a
velhice. Não, meu senhor, o dinheiro não vem antes de tudo. Nem de mim,
nem de você. Dinheiro não compra caráter, índole, respeito.
Quando passou o susto, agradeci mentalmente aos meus pais, por terem me
ensinado três das coisas mais bonitas que sei: a amar com sinceridade, a
entender que tudo na vida vem com trabalho árduo e a acreditar,
principalmente, em mim. No voo seguinte, pegamos uma tempestade no ar. E
eu resolvi fechar a janela. Às vezes, o melhor é a gente não ver. Só
assim enxerga de verdade o que realmente importa nesta vida.
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