Por André Lenz
Fico pensando
hoje na minha situação. Esse meu coração gelado que não se apaixona de nenhum
jeito. Tão exigente! Então converso com as pessoas e muitas acham o máximo eu
ser assim e gostariam de ser igual. De ter controle do coração e não sofrer por
amor.
Antes eu
achava isso o máximo em mim também. Achava super legal não se apaixonar e não
sofrer por ninguém, não pensar em ninguém ao ouvir uma música romântica, não
ficar com o coração apertado ou suscetível a decepções, mas depois de tanto
tempo dessa forma, hoje penso diferente.
Lembro quando
ainda era inocente, na época em que meu coração ainda não havia se machucado
tanto pra hoje estar dessa forma. Lembro da minha época de colégio quando era
sempre apaixonado por alguém. Eu estudei num colégio do maternal a quinta série
e sempre fui apaixonado até a quarta série pela mesma menina, Carolina Reis.
Nossa a coisa mais fofa desse mundo e há alguns anos atrás eu a encontrei por
acaso em Sampa e ela continua linda! Mas voltando, lembro até hoje
daqueles olhos azuis, daquele corpinho frágil e miudinho com uma voz bem calma
quase sussurrando, tão linda, tão fofa que dava vontade de apertar até esmagar!
Nossa, lembro
de falar pra meus primos que tinha uma namorada, mas ela não sabia. Lembro de
pedir pra ir ao banheiro toda vez que ela ia só pra esbarrar no corredor da
escola, só ela e eu. Lembro de escrever corações com meu nome e o dela dentro
ou de ouvir uma música romântica e ficar pensando horas a fio naquela guria. De
brincar de menino pega menina no recreio e sempre ficar perto dela só pra
deixá-la me pegar. Paixão adolescente não correspondida, lógico.
Na quinta
série a minha paixão era uma aluna nova chamada Tatiana Vila. Morena, olhos
negros e diferente da Carol. Era toda mandona, briguenta, do tipo que batia nos
guris o tempo todo. Nossa! Pirei com aquela beleza e energia. Uma vez a segui
de longe na saída do colégio só pra saber onde morava e dois dias depois tinha
feito um chaveirinho à mão com um coração dentro e o nome dela e lembro de ter
deixado na caixa de correio com uma rosa comprada com o dinheiro economizado de
três lanches de recreio. Que felicidade a minha de vê-la com o chaveiro pendurado
na mochila três dias depois. Fiquei uma semana sem dormir de felicidade, mas
nunca tive coragem de dizer a ela sobre meus sentimentos.
Agora meu
primeiro amor mesmo foi em outro colégio. Lembro de ter visto a Flávia na
primeira semana de aula naquele novo colégio e de já me apaixonar por ela. Eu
na sexta, ela na quinta e todo dia no intervalo das aulas corria até a porta da
sala de aula pra espiar no corredor a sala da quinta na esperança de que ela também
estivesse ali. Lembro de sempre sentar perto dela e das amigas no recreio só
pra escutar aquela loirinha de cabelos ondulados e pele branquinha falar alguma
coisa que de repente pudesse me ajudar.
Músicas
românticas, pensamento o tempo todo nela, vontade todo dia de chegar cedo na
escola só pra olhar em seus olhos e começar o dia feliz. Então conheci o primo
dela e aos poucos fui me entrosando pra só depois de seis meses de paixão
fazermos uma excursão de carnaval e ali me aproximar de vez. Foi quando percebi
que não só eu, mas ela também havia reparado na minha forma de tratá-la tão bem
e tão diferente de todos. Foi nos pequenos passeios nas trilhas do acampamento
quando sempre pegava uma flor bonita e entregava em suas mãos ou colocava em
seu cabelo, ou então de dar um jeitinho de pegar na mão dela quando a trilha
ficava escorregadia e esperar a noite chegar na hora das brincadeiras de roda
promovida pelos monitores, lembra? Aquelas de bater palma, cantar musiquinha,
escolher parceiros, sim, sou tão velho assim!
Bons tempos.
Depois daquele
acampamento era de mão dada pra cima e pra baixo, bilhetinhos em formato de
coração, sempre sentados um do ladinho do outro escondendo as mãos dadas no
sofá na frente dos pais. A Flávia foi meu primeiro amor, minha primeira paixão
e quando tudo acabou sofri de chorar horas durante a noite, me afundar em
músicas românticas no escuro do meu quarto por meses, sim, meses. Foi o maior
sofrimento da minha vida. Nunca tinha sofrido tanto por alguém.
Alguns namorinhos
foram, voltaram e o último mais marcante foi meu último suspiro de uma vida
romântica e ingênua. Lembro que ainda com dezessete anos me apaixonei novamente
na faculdade. Ainda sobrava um pouco daquele negócio de olhar e se apaixonar
sabe? Não à primeira vista, mas quase.
Samara o nome
dela. Corpo escultural, jeitinho de menina, cabelos longos e lisos que me
deixavam estático quando ela passava no corredor. Naquela época eu participava
do diretório acadêmico e conseguir o telefone dela foi questão de procurar no
cadastro do sebo que a gente promovia pra vender os livros da facul dos anos
anteriores.
Telefone na
mão, mas não liguei. Foi daí que comecei a matar aula pra ficar no bar por que
dava entrada para o estacionamento e descobrir qual era o carro dela. Depois
disso todo dia eu deixava uma rosa de uma cor diferente no pára-brisa do carro
dela e isso a deixou doidinha pra saber o autor de ato tão romântico!!!
Entrou em cena
minha amiga Bianca, superpaixão da minha vida, amigona mesmo e foi falar com
ela dizendo que sabia quem era. Lógico que tive que me afastar da Bianca por
uma semana e quando passávamos um pelo outro, só dávamos uma risadinha porque
sempre atrás da Bianca estava a Samara olhando escondidinho tentando descobrir
quem era.
Até que a
Bianca disse pra ela: “Ele está te esperando no carro. Vai lá!” E quando ela
chegou, eu estava ali parado, com cara de bobo, segurando um buquê de rosas de
várias cores e um ursinho de pelúcia.
Liguei algumas
vezes. Marcamos de sair, mas sempre quando chegava na hora alguma coisa
acontecia e não dava certo. O agradecimento que recebi foi somente um elogio da
amiga dela por fazer algo tão especial e tão marcante. E só. Acho que foi daí que começou minha revolta
e minha revolução psicológica. Lógico que no currículo tomei várias vezes na
cara, várias vezes mesmo. E a cada tombo me levantava mais forte. Ganhei força
também com meus problemas. Minha vida em si, conturbada, família, tudo. O fato
de toda vez fazer as coisas por mim, sem ajuda, me trancar, fechar pra balanço
para por a casa em ordem e superar tudo sem a ajuda de ninguém. Isso me fez
forte.
E agora volto
no início para por fim entender que antes o que era motivo de orgulho, hoje é
motivo de tristeza por ter esse coração tão gelado, de não conseguir me
apaixonar quase que à primeira vista como acontecia quando era mais jovem. De
ver uma mulher linda e às vezes tê-la em meus braços e fazer naquele momento
com que ela se sinta a última mulher do mundo, mas depois do momento não sentir
nada em meu coração, nem um friozinho na barriga sequer, e isso dói.
Meu coração na
verdade não é gelado, na verdade ele tem um infinito de sentimentos como vi em
meu filme preferido, “Multiplique o infinito, adicione as estrelas e você
terá apenas um mínimo vislumbre do amor que tenho guardado”, mas a questão
e tirá-lo de lá. É conseguir pular a muralha em volta e libertar um gigante
louco para sair.
Vou passando
cada dia deixando um pouco desse amor com meus amigos. Sendo o melhor que posso
ser. Vou deixando meu amor com cada mulher que, mesmo por um momento, eu fiz
feliz. Vou doando esse amor pra minha família, espalhando gotas por onde passo
e sendo uma pessoa boa com qualquer um que seja. Sendo sincero, falando sempre
o que se passa no meu coração, não mentindo nunca por mais doída que seja a
verdade. Sendo um livro aberto e abrindo meu coração com todos, nunca dando
esperanças falsas pra mulher nenhuma inclusive sempre deixando claro o risco
que ela está correndo em ter “momentos” comigo e nunca brincando com os
sentimentos. Sendo o mais transparente possível mostrando que nunca vou sentir
por ela, sempre com o maior respeito do mundo que qualquer mulher merece.
Tenho meus
momentos em que a solidão aperta e que qualquer beijo de novela me faz chorar,
mas sempre tenho minha alegria e meu sorriso no rosto porque esses momentos são
só meus e só Deus consegue vê-los. Tento de vez em quando me fazer acreditar
que estou apaixonado. Tento pensar em alguém ouvindo “a“ música. Mas sempre
passa e tais pensamentos somem com uma rapidez de segundos e assim vou vivendo
minha vida, deixando um pouco de carinho por onde passo e sendo feliz fazendo
os outros felizes. Mas eu (forte suspiro) ainda não sou feliz por completo.
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