Por André Lenz
São dez horas
da noite e estou na varanda do meu apartamento sentado olhando para o céu.
Daqui vejo a lua que brilha numa majestade nunca vista antes... Em volta dela
vejo as estrelas como se a estivessem admirando.
Levanto e vou
até o quarto de minha filha. Ela está dormindo com o abajur acesso. Vou até ela
e beijo sua face. Admiro aquele pequeno ser tão lindo e que cada dia rouba mais
um pouquinho do meu amor.
Fecho a porta.
Caminho em direção ao meu quarto. Abro a porta. Está vazio. A cama ainda está
arrumada. Olho tudo à minha volta e não acho nada do que gostaria de encontrar.
Alguém.
Volto para a
varanda, olho para o céu novamente e começo a refletir sobre minha vida. No
aparelho de som, Tom Jobim canta, "eu sei que vou te amar, por
toda minha vida vou te amar...". O que há de errado com essas
palavras?
Então lembro
do meu passado como se fosse um filme e as lembranças vêm à minha cabeça. Meus
relacionamentos passados, tudo vem à tona e como num flash sinto que voltei no
tempo...
Minha vida
nunca foi das melhores. Eu vivia em busca de algo que nunca encontrei. Eu
buscava constantemente um motivo ou alguém que me fizesse querer viver
intensamente os momentos bons dessa vida.
Quando caminhava
pelas ruas eu via o amor. Sentia que todos nós tínhamos a missão de encontrar a
pessoa certa que virasse todo nosso mundo de cabeça para baixo, mas que ao
final do dia, o prazer de tê-la ao seu lado juntinhos no sofá, debaixo do
cobertor, num dia de chuva, seria tão grande que seria como estar no céu...
Afinal, nunca
fui compreendido. Meus verdadeiros sentimentos sempre estiveram guardados
dentro do meu coração como se estivessem trancados com um cadeado que só quem
possuísse a chave poderia abri-lo.
Muitos
relacionamentos bateram à minha porta, mas ninguém conseguiu me fazer feliz por
completo. Ninguém conseguiu me consolar nos dias de tristeza, ou então, no
absoluto silêncio, com um simples olhar me dizer tudo. Olhar dentro dos meus
olhos e descobrir meus segredos, ou ser imprevisível a ponto de cada dia me
surpreender. Alguém que tivesse um jeitinho tão majestoso de ser que me
acorrentaria com seus atos... Seria alguém que despertaria em mim um jeito
carinhoso de ser, que me completasse de tal forma que nos tornaríamos um só.
Muitas vezes
tentei, deixando de lado muitas coisas por causa dos meus sentimentos. Corri
atrás do certo e do incerto sempre na esperança de terminar minha busca, mas
tudo foi em vão. Senti que a vida tinha me machucado muito, mas tudo seria
diferente. Meu coração estava cansado de viver vazio ou com falsas esperanças.
Agora eu tinha ganhado um presente. Algo muito especial que dormia enquanto eu
divagava.
Como dizia
Hebert Vianna, "saber amar é saber deixar alguém te amar."
Talvez o problema fosse esse... Talvez eu nunca tenha deixado ninguém me amar
ou talvez nunca tenha tentado realmente amar alguém. Eu tinha muito medo, mas
agora não podia mais fazer nada.
O silêncio é
interrompido com um chamado:
- Pai!
Olho para trás
e vejo aquela majestosa mulher de apenas três aninhos com seu travesseirinho na
mão. Ela pega em minha mão e me puxa até meu quarto. Sobe na cama e me obriga a
deitar. Ela deita-se ao meu lado, me dá um abraço forte, e naquele momento,
olhando para seu rosto, esqueço todos meus problemas...
Com um tom
meigo aquela pequena mulher ordena:
- Pai, fecha
os olhos e dorme!
Agora tenho
alguém que cuida de mim. Meu coração não está mais vazio! Então fecho os olhos.
Adormeço.
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