Como saber o que dá pra desculpar e o que, ao contrário, é imperdoável
por Rosana F. | 11/08Em uma rápida consulta ao dicionário, perdoar significa desculpar, relevar e absolver, além de se conformar e aceitar. O psicólogo Paulo Próspero acrescenta mais um verbo à lista do perdão: esquecer - para não esfregar o erro na cara do outro na primeira oportunidade. Diante de tantos verbos, já deu pra perceber que perdoar envolve um monte de sentimentos, ou seja: é difícil pra caramba (!).
Quem tem namorado, tem briguinhas, implicâncias e chateação. É, meninas, a convivência não é mole e exige perdões diários. A usuária do Bolsa, Mônica Santos da Rosa, viu seus desentendimentos com o então namorado triplicarem nas proximidades do casório. "Começou com a lista de convidados", lembra ela, que discutiu também na hora da escolha dos padrinhos, do bem-casado, da decoração, das músicas. "O importante é saber que essas brigas sempre existiram e existirão. É saber perdoar e pedir desculpas quando for a hora", diz ela, destacando a importância de ter certeza dos sentimentos que unem o casal.
Dá para perdoar as implicâncias, a toalha molhada sobre a cama e o mau humor matinal. E trocar os nomes é perdoável ou imperdoável? A roteirista Ni Bernardes não apenas acredita que dá pra relevar, como sugere rir da situação. "Comigo aconteceu uma vez e foi o que considero a minha maior ‘gafe de alcova'. Na primeira transa após o término de um relacionamento duradouro, chamei o namorado novo pelo nome do ‘falecido'", conta ela, garantindo que não cometeu o erro por sentir saudades do ex, mas por força de hábito. "Por um breve momento de descontração e descuido fui traída pela memória. O novo namorado e eu levamos tudo na esportiva. Tratamos o episódio com bom humor, porque não dá pra levar a vida tão a ferro e fogo", teoriza Ni.
Traição tem perdão?
É chegada a hora de um assunto polêmico: traição. Nesse caso, as opiniões são inflamadas. A usuária Sulayne se diz taxativa quanto à possibilidade de perdoar uma pulada de cerca. "Não!", grita ela. "Embora possa parecer uma atitude imatura, eu sei que não sou uma pessoa capaz de ‘esquecer' facilmente as mágoas", admite, defendendo que não adianta dizer que perdoou, se na primeira oportunidade a pessoa despejar todo o ressentimento. "Pra mim, o perdão é dom divino e eu, uma pobre mortal imperfeita, realmente não sou capaz de desculpar uma traição!", diz.
Já a usuária do Bolsa Rosana diz que perdoa. "Já conversei muito sobre esse assunto e uma vez um amigo meu disse: ‘Somos jovens, estamos sujeitos a conhecer pessoas e podemos, sim, conhecer alguém e sentir atração'. Depois disso, cheguei à conclusão que perdoaria, pois trair é algo que todas nós estamos sujeitas a fazer", diz Rosana. Para ela, jamais podemos dizer "nunca faria", não sabemos o que a vida nos reserva.
A usuária Bikis tem uma posição curiosa. Para ela, quem ama não trai. E quem ama perdoa - inclusive uma traição. "Que é chato é... Mas, por amor, a gente suporta tanta coisa", diz ela, que sentiu as dores de uma traição e conseguiu perdoar. "Nada mais bonito do que perdoar. Mas tem que ser de coração", diz Bikis. A usuária Vanebynight concorda: "Perdoe verdadeiramente, sem cobranças posteriores, sem ficar jogando na cara quando ocorrer algum outro desentendimento".
Sem reincidências
Segundo o psicólogo Paulo Próspero, nada é imperdoável: "Ao perdoar, o ser humano se liberta de uma situação que estava sendo prejudicial a ele. O perdão é a única solução para que o homem não se torne um escravo de determinada situação". É importante, porém, que o erro em questão não seja reincidente. "Quem perdoa deve ficar atento para que a situação não se repita", afirma o psicólogo, acrescentando que, ao desculpar o outro, a pessoa deve refazer a sua posição na relação.
Para Próspero, perdoar é mais fácil do que pedir perdão. "Reconhecer o próprio erro é uma forma de despojamento muito grande em que a pessoa tem que se livrar do orgulho e da vaidade. Tem que ter humildade", explica o psicólogo, lembrando que estamos falando do perdão verdadeiro. "Da boca para fora, é muito fácil tanto perdoar quando pedir perdão. Mas, nesse caso, é comum o erro ser repetido várias vezes", afirma.
Quem tem dificuldade em perdoar acaba guardando ódio e ressentimentos, o que não é legal. Para Paulo, o ódio é corrosivo e não acrescenta nada a ninguém - pelo contrário: "Muitas doenças, principalmente as autoimunes, estão ligadas ao ódio. Ao perdoar, o ser humano se liberta deste sentimento e melhora seu sistema imunológico". O psicólogo garante: quem perdoa se torna mais feliz, mais leve, e conseqüentemente, mais amado. E finaliza: "Perdoar é uma arte".
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