É a sua cabeça sobre meu o peito, é a
trança folgada e o jeans claro desfiado, combinando com aquela blusinha
cinza do Mickey que você usa de pijama, aquela que adoro, aquela com
dois furinhos e muitas histórias para contar. São suas mãos acariciando
as minhas e gesticulando timidamente enquanto aponta para a nuvem em
forma de coelho. Seu batom vermelho. É o
tiquetaquear do relógio da sala. Ininterrupto. O cheiro do bolinho de
chuva e do café fresco. Sua boca procurando a minha. O gosto da sua
saliva misturado ao chá de camomila e o seu pescoço cheirando a jasmim. É
a rede amarela de crochê da tia Mallu que se transforma em nosso ninho
nos feriados. São os pardais e a laranjeira carregada. O ipê florido. É o
céu, que de tão azul parece até pintado como algodão umedecido em tinta
guache.
É a mão no meu colo no cinema, cada
susto um aperto. Nossa foto na sua penteadeira. São os livros que me
presenteou aos vinte e cinco, vinte e seis e vinte sete. Fante,
Bukowski, Drummond. É nosso cachorro no seu quintal, vem de mansinho,
encosta o focinho gelado no meu braço a espera de um sorriso, um afago. É
sua orquídea azul na janela da varanda e o jazz a noite com prosecco.
Nós dois apertados, descalços sobre o tapete da sala do apartamento. A
girar.
É o convite para a sua cama. O vinil
preferido. Dylan. É o seu companheirismo e o seu brigadeiro de panela.
Sua ligação de madrugada. Suas broncas. Minhas cuecas com bolinhas que
te irritam tanto, eu sei. Comprei meias novas e camisetas brancas.
É o seu jeito de sorrir que me contagia
mais que as melodias de Chico ou Camelo. Fico em transe. Gosto que me
presenteia com sussurros de sacanagens no café da manhã, misturados com
geléia de damasco, melão picado, queijo polenguinho e iogurte. É o seu
sorriso de criança que ganhou presente novo, são suas gargalhadas quando
faço cócegas, é aquela cerveja meio-quente-meio-gelada-pós- beijo, que morou na porta do carro enquanto eu me perdia em você.
Fico ensolarado com esses presentes.
Fico imensamente feliz por suas manias, que entrelaçadas as minhas não
me deixam nublar. Me sinto o cara mais feliz e sortudos de todos, aquele
que apostou sua última ficha em Vegas e saiu milionário depois de cinco
cartas de copas. Royal Flush.
Me rendi aos teus cheiros, me rendi aos
teus gostos. Me entreguei pra sua boca buscando a minha, para o seu
corpo com gosto de sal, com gosto de mar. Me vi de quatro para os sons
da nossa parceria.
Descobri o amar.
Poe Eder Fabricio
Nenhum comentário:
Postar um comentário