A pesquisadora americana Pamela Haag fala sobre novos modelos de casamento
"Um dia a parte menos feliz diz: não quero mais”, diz Pamela Haag sobre a dinâmica semifeliz
Com base em conversas e pesquisas, Pamela identificou novas dinâmicas que se distanciam dos estereótipos de casais “felizes para sempre” ou que “brigam sem parar”. Em entrevista exclusiva ao iG, a autora explica as suas conclusões e afirma que as uniões estão ficando mais customizadas.
iG: Você explora no livro o conceito de casamento semifeliz. É possível mesmo viver assim ao lado de alguém?
Pamela Haag: É bom ter em mente que semifeliz é melhor que infeliz ou miserável. Esses não são os relacionamentos estragados, mas aqueles acinzentados, em que um dos parceiros está confuso sobre o que fazer. É um casamento com vícios e virtudes, também são calmos e rotineiros. Às vezes um dos lados fica viciado nessa estabilidade e não quer agitar a maré. Essas uniões são mais viáveis quando a pessoa insatisfeita procura as paixões que precisa em outras coisas como trabalho, amigos ou com um hobby. Todos os casamentos passam por altos e baixos. É inevitável. Então é possível que ele passe por fases semifelizes. Mas alguns casamentos estão empacados na semifelicidade.
iG: Como identificar se você está em uma relação semifeliz?
Pamela Haag: Você sabe que está em uma relação semifeliz se em um minuto não se imagina ficando nela e no seguinte não se imagina terminando tudo. Outro sinal é acordar no meio da noite pensando em divórcio, passar muito tempo se preocupando com a relação, racionalizando tudo. É possível que um dos parceiros apresente melancolia e o outro não faça ideia do fato ou do motivo, até que um dia a parte menos feliz diz: “não quero mais”. Pode parecer que isso surgiu do nada, mas a sensação de estranhamento já estava lá. Os relacionamentos semifelizes costumam parecer perfeitos do lado de fora e, quando acabam, os amigos dizem que não imaginavam que isso poderia acontecer.
iG: Essa parcela de infelicidade teria relação com expectativas muito altas em relação ao casamento?
Pamela Haag: A maioria dos divórcios acontece nos primeiros sete anos de casamento e muitos especialistas dizem que isso ocorre em função de ideais de perfeição, como o “felizes para sempre”. Mas eu não percebo isso, as expectativas não estão altas demais. Nas minhas entrevistas muitos diziam valorizar a base familiar, estabilidade e companheirismo que o casamento traz. Metade das pessoas concordou que o casamento hoje é mais uma relação de amizade do que qualquer outra coisa. Essas não parecem expectativas altas demais pra mim. Na verdade, em tempos que 50% dos americanos acreditam que o casamento está ficando obsoleto, o problema não parece ser as expectativas altas, mas sim as novas opiniões e expectativas baixas demais.
Autora de "Marriage Confidential", Haag diz que os casamentos se beneficiam de cuidado, atenção e imaginação
Pamela Haag: Os filhos marcam um grande ponto de transição no casamento. Hoje, porém, eles têm um papel paradoxal. De um lado as crianças são menos centrais na relação – há mais casamentos sem filhos e filhos de pais que não estão casados. Por outro lado, quando um casal resolve ter filhos, eles podem rapidamente transformar a união em um “casamento dos pais”, uma relação que é definida pelo volume de tarefas e energia emocional empregados na criação. Os cuidados paternais e maternais hoje são exagerados. Nos Estados Unidos, os pais são superenvolvidos e ansiosos, ao contrario de 50 anos atrás, quando eram um pouco mais indiferentes. Não fica claro se esse estilo atual é válido. Talvez esteja machucando mais o relacionamento do que ajudando aos filhos.
iG: Mulheres e homens estão mudando a postura como pais, mas também como parceiros. Partindo desse novo contexto, qual a principal tendência para relacionamentos no futuro?
Pamela Haag: Acho que os casais agora terão conversas mais esclarecedoras antecipadamente sobre suas expectativas. Assim eles poderão decidir se a monogamia é realmente estrutural para a relação ou se faz sentido apenas para um período do casamento. Segundo a minha pesquisa, 22% das pessoas dizem que um acerto não monogâmico poderia funcionar, mas desde que seja acordado entre os dois. iG: E depois de tanto pesquisar, você indicaria um segredo para ter um casamento feliz – e não semifeliz?
Pamela Haag: Geralmente Nas minhas conversas percebi que a peculiaridade dos relacionamentos duradouros não é tanto a compatibilidade, mas a capacidade do casal se adaptar e evoluir junto. No futuro também é mais provável que os casais adaptem o casamento aos seus valores do que adequem suas personalidades aos relacionamentos. O casamento está ficando mais customizado para cada casal.
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