Olho para o
telefone e fico esperando. Na verdade esse minuto é apenas mais um
insignificante instante entre as horas que duram minha agonia aqui parado,
jogado aos meus mais delirantes pensamentos de solidão.
A casa
novamente está vazia. Ela fica cheia apenas nos meus pensamentos. O barulho
imaginário de pessoas ao meu redor me atormenta e não me deixa dormir e isso me
enlouquece a cada minuto de sono perdido, porque quanto mais acordado eu fico,
mais meu sofrimento se estende e liberta minha imaginação para pensamentos
nocivos.
Olho para o
telefone e tento imaginar quando ele vai soar sua campainha redentora, que irá
me tirar deste abismo e me projetar novamente para a vida. Mas ele continua
ali, mudo, sem trocar uma palavra comigo e assim estendendo esse meu sofrimento
interminável em busca de uma saída, ou rumo à total perdição.
Estou cansado
de esperar. Meus olhos fraquejam a cada minuto e meu corpo é tomado por um
cansaço enorme, como se eu tivesse lutado a noite inteira comigo mesmo e, por
incrível que pareça, eu perdi. Meus lábios não querem se movimentar nem por um
gemido, nem por um sussurro, eles querem apenas descansar porque não aguentam
mais pedir e pedir......
Minhas pernas
não querem me levar a lugar nenhum porque elas não suportam mais procurar o que
se perdeu, o que ficou para trás e de alguma forma foi esquecido. O telefone
continua lá, estático. A vontade é quebrar tudo ao meu redor e extravasar essa
raiva que me domina e que aumenta a cada segundo deixando minha loucura mais e
mais aguçada e sentindo um prazer sádico de sofrimento.
Talvez eu
queira sofrer, talvez o telefone conspire para minha insanidade, talvez ele
esteja desligado. Talvez eu esteja e por mais que isso possa parecer claro,
acomodei-me e não quero levantar. Quero continuar aqui sofrendo sozinho essa
perversão do abandono, olhando fixo para aquele aparelho ridículo e
insignificante.
Não estou mais
em mim. Não
sei mais quem sou, nem sei o que quero, apenas deixe-me aqui parado, deitado ou
então, tire-me brutalmente porque eu não tenho mais forças e não quero mais
brigar.
O desgraçado
continua mudo e eu estou já à beira de um colapso, tudo está girando em torno
de mim e parece que todo o peso do mundo veio cair diretamente em minhas costas
e agora a fúria já domina todo o meu ser e não vou mudar isso. A cada minuto
que passa, ela corre mais e mais pelo meu sangue e penetra em cada parte do meu
corpo me possuindo por completo.
A noite está
acabando e o que eu apenas queria era descansar e ficar em paz, mas o mundo não
vai me deixar em paz!
O telefone
toca. Olho com raiva para aquele imbecil que me deixou louco e que tirou meu
sossego, que tirou minha vida e fico pensando se realmente vale a pena atender.
Hesito. Ele toca novamente.
Agora todos os
meus pensamentos pararam e desliguei-me do mundo prestando atenção apenas ali,
no canto, no barulho que se repete num intervalo pequeno mas suficiente para se
eternizar em meus pensamentos, para avaliar se todo esse sacrifício vale a
pena!
Com a mão em
cima do telefone, todo o sofrimento vai embora e toda a raiva se dissipa como
em uma mágica sem sentido e sinto que agora estou novamente no mundo. Que
existe uma esperança e que nem tudo está perdido. Minha voz se acalma, meus
olhos arregalam, minha boca fica seca e cada vestígio de raiva vai me
abandonando e escorrendo pelo chão, e agora uma ansiedade toma-me por completo
e toda a minha força concentra-se ali, na minha mão, em cima daquele telefone.
O maldito, o
imbecil, o salvador. Nesse curto mas eterno momento, eu paro. Decidido não
atender. Espero ele tocar até parar. Coloco o telefone no lugar e calmamente
volto para onde estava e nunca devia ter saído porque nada mais importa.
Com certeza era engano.
Com certeza era engano.
Por André Lenz
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