domingo, junho 27, 2010

Não Sei Quantas Almas Tenho



Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.




Buena povo, postagem de numero 800, gratos a todos que tem acompanhado este humilde blog e que manda mensagens de incentivo. Como sempre digo, por mais que soh eu lesse o meu proprio blog eu escreveria, mas fico feliz em saber que pessoas se identificam com meus posts..... Em breve novidades, e o livro continua fluido.... Abracos e beijos.

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