No início era só amizade. Ele é gente finíssima, uma pessoa com quem você se sente à vontade e querida. Juntos, vocês têm uma lista de segredos - dos mais profundos aos mais indecentes. Ele era quase da família. Até que um dia, num fim de tarde ou numa noite de lua cheia, depois de uma dose a mais ou no momento em que ele tocou na sua cintura com aquela mão pesada, click, você se deu conta de que o sentimento de amizade havia se transformado em uma impiedosa paixão. E agora?
Quem está a fim do amigo sente dois medos: 1) não ser correspondido; 2) perder a amizade. Tem gente que se arrisca e acaba ganhando um namorado. No caso da coordenadora pedagógica e professora de idiomas Lígia Pereira, um marido. "Éramos colegas de trabalho há cinco anos e amigos há cerca de um ano. Quando nos tornamos amigos, os dois tinham seus respectivos namoros, mas acho que ele já guardava uma paixão secreta por mim", revela Ligia, que via a diferença de idade como um empecilho - ela tinha 23 e ele, 48.A iniciativa do primeiro beijo foi dele: "A gente saía bastante como amigo. Até que um dia esticamos do bar para a casa dele para ‘tomar café' e aí não teve jeito", lembra a professora, admitindo que, em um primeiro momento, sentiu medo de perder a amizade. "Mas vi que seria besteira pensar assim pois ele era um cara maduro. E como éramos amigos, nos conhecíamos bem e eu sabia que ele não iria aprontar", revela Lígia, apontando como desvantagens de namorar um amigo o fato de, às vezes, se permitir falar coisas que num relacionamento amoroso não são muito legais de se ouvir. Contudo, as vantagens prevaleceram: estão casados há seis anos.
A professora Adriana Machado, 30 anos, tinha um amigo inseparável. E esse amigo inseparável tinha uma namorada - que parece ter sido uma das primeiras a farejar que a amizade entre os dois ia acabar em namoro. "Falei pra ele que, se ele ficasse com ela, eu me afastaria porque não queria confusão pro meu lado", conta Adriana, que, ao pensar em perder o contato, percebeu que sentia algo a mais. "Passei a prestar mais atenção: doer tanto assim não podia ser normal entre amigos. Nas férias, doía ficar longe dele. Mas como não acreditava que era recíproco, decidi que me afastaria até esfriar pra mim", lembra ela, que não queria estragar a amizade: amava as conversas e a companhia do então amigo.
Primeiro, ele terminou com a namorada. Depois, os abraços entre os dois se tornaram mais longos - desses que dão frio na espinha. "Até que um dia ele foi me deixar em casa depois de jogarmos baralho na minha prima. Ele estava indo embora quando deu meia volta e falou ‘Quer saber? Não quero ser seu amigo p.... nenhuma!' E me lascou um beijo! Meu coração disparou. Senti uma felicidade que nunca havia sentido na vida", conta Adriana, que em dois meses estava noiva e se casou no ano seguinte. "Casar com um amigo é bom porque não descobrimos depois que o outro não era o que pensávamos. Nem precisamos ficar ‘cheios de dedos' tentando descobrir do que o outro gosta, do que não gosta, se tal coisa agrada ou não", ressalta.Mas nem sempre a coisa dá certo: há casos em que, depois do beijo, a relação desanda como aconteceu com a arquiteta Milene P. "A gente vivia grudado, ele freqüentava a minha casa, conhecia a minha família. Pra completar, sempre foi um gato. Um dia, numa noitada, a gente bebeu um pouquinho além da conta e ficou juntos", lembra. Ela conta ter realizado um desejo antigo que se tornou uma grande decepção. "Fiquei sabendo que ele tinha contado tudo o que tinha rolado entre nós para vários conhecidos nossos, inclusive para um cara com quem eu saía de vez em quando. Pior foi a forma grosseira que usou pra contar, dizendo que os dois eram sócios", conta Milene, que tomou satisfações com o amigo e preferiu romper a amizade. "Nunca mais confiaria nele. A amizade acabou. E eu pensava que conhecia ele de verdade", lamenta.Segundo a psicóloga Márcia Velasco, namorar um grande amigo pode ser vantajoso à medida que os parceiros já se conhecem, têm um vinculo afetivo e confiam um no outro. "Estas mesmas vantagens podem virar dificuldades. Às vezes eles vão se deparar com comportamentos que não são de um amigo, pois agora são namorados", pondera Márcia, ressaltando que os dois mudarão de comportamento. "O casal deve ter em mente que é o começo de uma outra relação com outros objetivos e construções", afirma, salientando que, no quesito confiança, namorar um amigo é algo positivo. "Diante de tantas histórias que ouvimos falar, termos um namorado que conhecemos há tempos pode nos resguardar um pouco", afirma.Se você se identifica com essa situação e não sabe o que fazer toda vez que sente o coração acelerar ao ver o amigo, a psicóloga dá o caminho das pedras. "Minha dica é o diálogo. Puxe o papo e aproveite para se declarar. Assim saberá se está sendo correspondida e pode passar da fantasia para a realidade", finaliza.
domingo, agosto 15, 2010
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