terça-feira, abril 27, 2010

Viver Não Doi

Carlos Drumond de Andrade

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,apenas agradecer por termos conhecidouma pessoa tão bacana,que gerou em nós um sentimento intensoe que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemoso que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamosde ter conhecido ao lado do nosso amore não conhecemos, por todos os filhos quegostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silênciosque gostaríamos de ter compartilhado,e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastantee paga pouco, mas por todas as horas livresque deixamos de ter para ir ao cinema,para conversar com um amigo,para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãeé impaciente conosco,mas por todos os momentos em quepoderíamos estar confidenciando a elanossas mais profundas angústiasse ela estivesse interessadaem nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,mas pela euforia sufocada.Sofremos não porque envelhecemos,mas porque o futuro está sendoconfiscado de nós, impedindo assimque mil aventuras nos aconteçam,todas aquelas com as quais sonhamos enunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.

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