quarta-feira, maio 15, 2013

As Coisas Que Vão Me Lembrar Você

As Coisas Que Vão Me Lembrar Você
O despertador velando os nossos ouvidos de dez em dez minutos. Os dedos munidos de incansáveis e regurgitáveis e repetidas mensagens de bom dia. O seu café temperado com canela anunciando oito horas de sono, quase nove. Meu corpo abandonado nessas madrugadas enfrentando a insônia, num cortejo inútil para amansar a solidão dos pés.
O que não tivemos, porque fomos interrompidos. As festas que frequentaríamos, eu estrangulando a sua mão, pra que seu amor não me escapasse. As viagens que não planejamos. Aviões no céu, todos eles, que flutuam na linha da vida que você me roteirizou e cremou, como se cansado da brincadeira.
Eu vou me lembrar de você sempre que for surpreendida por uma parede colorida por porta-retratos e me dilacerar com uma dúvida: quanto tempo depois você se livrou da insignificância da minha foto coroada ali. Toda vez que topar com qualquer peça de roupa enterrada nas gavetas e que foi parar ali um dia só pra chamar a sua atenção. Do quanto você me achava insuportavelmente bonita. E do quanto eu me fazia bonita, só pra agradar.
Uma multidão ao nosso redor, você com um presente nas mãos. O nome do taxista que guiava por São Paulo quando você descansou no ombro esquerdo a cabeça e seu olhar incendiado de uma ternura piegas me enquadrou eternamente. O perfume que você me deu – ainda é dolorido me vestir com nosso cheiro – e que escondi de minhas recaídas noturnas e dramáticas, que todos já preferem ignorar.
Palavras atrevidas enjoando o peito. A eternidade de um beijo. Um tropeço do coração. O corpo anestesiado de uma alegria, que hoje repousa cinza dentro de alguma urna do meu passado.
Silêncios repentinos vão me lembrar você. Uma porta batendo na minha cara. Um telefone desligando sem adeus. Aliás, qualquer adeus. Todo “até logo” banal que ainda vou sofrer. Perguntas não preenchidas. Mentiras. O que você completou, enquanto eu só conseguia sorrir.

Por Priscila Niconielo

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