Michael com os filhos e a ex-mulher, Silvana
Conheça a história de Michael e Silvana, um casal que leva vida de solteiro mesmo vivendo com o ex-parceiro
Por Carina Martins
Não se trata de manter as aparências. Pelo contrário. A história de Michael e Silvana Jonas, de Salvador, não tem nada do comuníssimo caso dos casamentos que se desgastam e transformam ex-namorados em uma dupla que apenas se tolera “até que a morte os separe”. Ou melhor, tem uma coisa: o fato de que o casamento deles também acabou. Michael e Silvana preferiram não ignorar o fim do romance. Só que não saíram de casa.
Os dois já moravam juntos em 1989, antes mesmo de se casarem, quando ela o acompanhou durante uma temporada de estudos nos EUA. “A gente se casou em 1991, e foi um casamento normal, bem tranquilo no início. Tivemos um filho em 93, e passamos por uma pequena crise na transição do papel de mulher para mãe, mas não chegamos a nos separar. Continuamos juntos nos gostando e respeitando como pessoa”, conta Michael. Quando o menino estava com sete anos, fizeram uma nova viagem aos EUA, desta vez para o doutorado dele. Problemas financeiros interromperam os planos e, para piorar, a crise conjugal ensaiada anos antes voltou com força. “Pensamos até em eu voltar e ela ficar. Voltamos os dois, mas chegamos a morar separados por uns cinco meses, ela em casa e eu com meus pais”.
Depois de alguns meses, a crise foi contornada e Michael e Silvana decidiram tentar de novo. Voltaram a viver juntos. “E talvez até para formalizar essa volta, tivemos uma filha em 2001. O casamento voltou legal, sem grandes problemas”.
Separação
Só não durou muito. “Por volta de 2006 ou 2007, a gente sentiu que ainda se gostava, mas já não tinha nenhuma atração sexual, tesão, não tinha paixão. Conversamos e decidimos terminar”. Com um final amigável e dois filhos, começaram a pensar nas questões práticas da separação. Não gostaram do que viram. “Fizemos as contas e chegamos à conclusão de que não havia motivo para os dois baixarem o padrão de vida. Foi até ela quem sugeriu a solução, e eu estava pensando a mesma coisa”. A solução era continuarem a viver juntos, sem dividir bens nem os filhos. Os dois acharam o acordo bom. “Tinha respeito, amizade, companheirismo. A gente podia até continuar assim, mantendo aparências e buscando sexo fora de casa. Mas pra que essa hipocrisia?”, pergunta Michael.
O casal então conversou com o filho mais velho. Para a caçula, eles acharam melhor adiar a explicação, que só veio recentemente. “Papai vai ter suas namoradas e mamãe vai ter seus namorados.” E foi exatamente o que aconteceu. Desde que se separaram, os dois já tiveram diversos relacionamentos. Silvana já teve dois namorados estáveis, que chegaram a conhecer os filhos. “Essa é a constatação de que realmente acabou, eu não tenho nenhum ciúme dela e acredito que ela também não tenha. Esperamos que um convide o outro para ser padrinho ou madrinha do próximo casório”, diz Michael.
Futuro
Mas existem alguns obstáculos à vida de solteiro dos dois. Ainda não houve namorados e namoradas a quem fosse permitido frequentar a casa da família, por exemplo. Também nunca foram apresentados aos ex-cônjuges. O único que chegou perto – recebeu um convite para o aniversário de uma das crianças no salão do prédio – acabou preferindo não ir. Silvana também já perdeu um namorado por conta dos ciúmes que ele tinha do ex dela. E Michael atribui ao mesmo motivo o fato de a maior parte das mulheres que conhece não investir numa relação mais séria. “Não adianta, as pessoas não acreditam que não há nada entre nós, acham que sou casado e estou traindo”, diz. A família também não aceita muito bem a situação, especialmente a dela. Mas os dois continuam frequentando um a família do outro. “É um arranjo ainda não muito aceito, as pessoas tendem a não acreditar que o outro está falando a verdade. Para nós, é uma questão simplesmente econômica e por causa dos filhos”, diz. Não é muito aceito, mas não é tão incomum. Michael conta que, na universidade onde leciona, conhece mais dois professores na mesma situação.
Por causa das restrições dos novos parceiros, eles têm pensado em morar em casas separadas. Mas não muito. “A gente pensa em comprar dois apartamentos que sejam perto um do outro. Se possível, até no mesmo prédio”. Assim, podem continuar com os filhos em tempo integral. E não será tanta diferença com relação ao arranjo atual, que consideram bem –sucedido. Querem reproduzir em duas casas a liberdade que têm hoje no apartamento de três quartos, em que cada um dos moradores dorme onde tiver vontade. Os irmãos juntos, cada filho com um pai. “Quem for dormir primeiro escolhe. Mas eu nunca durmo com ela, não. É porque diz ela que eu ronco”.
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