sexta-feira, dezembro 16, 2011
Culpa
Por Milka Lopes
Dormi entre lágrimas, dentro de mim a raiva e a culpa me consumiam...
Raiva por receber coisas das quais eu não fui e não sou capaz de cuidar, raiva por pensar em tudo o que tem me acontecido nos últimos meses, raiva de mim, de mim e de mim, porque no fundo só cabe a eu mesma mudar alguma coisa.
A culpa é por não ser mais paciente, mais tolerante, mais doce, mais serena. A culpa é por ter esse gênio incompatível com “qualquer pessoa”. A culpa é por não conseguir dizer o que sinto na hora que sinto, é por não ser capaz de expressar toda a dor que há em mim, fazendo com isso, parecer que sou insensível e contrária a qualquer sentimento bom, passível a todos os mortais.
Escrevendo eu digo tudo, eu me abro por inteira, deixo as letras tomarem forma, escorrerem no papel tirando a sua palidez, traçando o percurso do som que não sai da minha boca, dos gestos que a minha inércia não permite. É essa necessidade de escrever que me faz retomar o fôlego, que não me deixar morrer sufocada com tantas coisas não ditas, com tantas omissões, com tantos sentimentos não revelados. É essa necessidade que me resgata dos meus medos, do sombrio dos meus pesadelos e da fraqueza da minha voz... A voz que calo é a mesma que grita e atormenta dentro de mim, que me culpa e me condena, por tudo o que não fui e por tudo o que eu ainda não sou.
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