segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Como apresentar o novo namorado para o seu filho?


Postura dos pais, paciência do novo parceiro e criação de rituais são essenciais para a aceitação das crianças

Por Tatiana Gerasimenko


Postura dos pais pode direcionar a reação das crianças ao "estranho no ninho"

Para os filhos de pais separados, a esperança é a última que morre. “Independentemente da idade, o desejo fantasioso de todos os filhos é ter pai e mãe juntos de novo”, afirma a psicoterapeuta familiar Solange Rosset. Como a vida continua, hora ou outra eles deverão lidar com uma situação diferente da imaginada – como o ingresso de um novo personagem na história. A atenção será dividida com alguém desconhecido e o estranho no ninho representa o ponto final dos antigos laços familiares. Diante do perigo, é natural as crianças surgirem com pedras nas mãos. Cabe aos adultos ser maleáveis: uma postura madura e consciente do papel de cada um na família ajuda na hora de apresentar o novo parceiro às crianças.

Tudo ficará mais fácil se os pais mantiverem um relacionamento amigável. “Para os filhos, a fonte de maior sofrimento é o conflito continuado entre os pais”, explica a psicóloga e terapeuta de família Rosana Rapizo. “Muitas vezes o ciúme exagerado é uma forma de proteger, de ser leal ao pai ou à mãe que o filho sente mais frágil ou mais ressentido com a separação”.

A gerente comercial Giselda Menagé sempre teve uma relação amigável com o ex-marido, que já morava com outra pessoa há dois anos quando ela começou a namorar. Mesmo assim, seu filho mais velho, com seis anos na época, sentiu um pouco de ciúmes. “Tivemos uma grande discussão, mas ele conseguiu entender que o tipo de amor era diferente, e que eles sempre teriam um lugar privilegiado em minha vida”, conta ela. Hoje, o relacionamento entre todos é excelente. “Eles jogam videogame, assistem a filmes juntos, fazemos viagens em família”. Para ela, a melhor forma de lidar com esta situação é conversar muito com os filhos e o novo parceiro, além de promover passeios divertidos incluindo o namorado.

Carro em movimento

Quando a relação com o ex-marido ou ex-mulher não é saudável, o novo parceiro deve esbanjar paciência. “Os novos namorados ganham muito se entenderem que estão entrando em um carro em movimento”, ressalta Rosana. “Muitas coisas aconteceram antes da chegada e, sobre isso, eles não têm conhecimento ou controle”. Por isso, tentar ganhar afeto e aceitação dos filhos da namorada logo de cara é furada na certa.

Do outro lado, cabe aos pais mostrar que suas funções maternas e paternas continuarão a ser cumpridas. “A principal dificuldade de quem está tendo uma nova relação é poder exercer sua afetividade e sexualidade sem misturar com suas tarefas e compromissos como pai e mãe”, diz Solange.

É preciso também entender que as crianças não têm ainda – e podem nunca ter – intimidade ou afetividade pelo novo parceiro. O respeito aos tempos e espaços de todos os envolvidos é essencial. “Às vezes, os pais são um pouco afobados quando terminam um casamento e surgem com uma nova namorada”, explica Ana Maria Fonseca Zambieri, doutora em Psicologia Clínica na área de casal e família. “Eles confundem o processo interno deles com o das crianças, que é completamente diferente”.

Além disso, o homem e a mulher tendem a lidar com as questões em ritmos distintos. Muitas vezes o homem termina a relação porque se apaixonou por outra mulher, deixando a ex magoada. O processo da mulher será mais lento, o que afeta diretamente os filhos, principalmente se eles estiverem morando com ela. “Uma das coisas mais graves é o marido terminar a relação e a ex-mulher ainda estar na fase de esperar que ele volte. Neste caso, a nova namorada não terá chance: os filhos a verão como a responsável pela separação”, afirma Ana Maria. Portanto, respeitar a elaboração do luto é muito importante para que haja uma aceitação melhor do novo companheiro.

A hora H

Falar pode ser fácil, difícil mesmo para os pais é o momento da apresentação. De acordo com a psicóloga familiar Nair Teresinha Gonçalves, a ocasião requer atenção e pede muitas vezes algo especial, como um jantar, por exemplo. “O ritual ajuda a marcar determinadas datas e momentos importantes”, explica. “Primeiro é preciso dar um tempo, esperar concretizar a relação; depois, pode-se marcar um momento especial, seja ele um jantar com a família ou qualquer outra maneira”. O ideal é elaborar uma situação que fuja da rotina, para depois procurar a rotina que induzirá a adaptação das crianças.

O ritual proposto pelo novo companheiro da assistente social Lia Perrella foi um pedido de namoro à moda antiga. Assim ela pôde compartilhar com as filhas, na época com três e sete anos, o acontecimento. “As meninas o receberam bem, porque ele sempre foi muito afetuoso e sabia lidar com a questão de forma muito positiva, além de também ter filhos mais velhos”, conta. O processo, afirma Lia, foi gradativo e levou um ano para se formalizar. A mãe nunca deixou de colocar as garotas em primeiro plano. “Só fui viajar sozinha com ele quando as minhas filhas se tornaram moças, porque sempre tive em mente que o parceiro deveria incorporá-las à sua vida”. Deu tão certo que hoje Juliana e Natália, com 30 e 26 anos, respectivamente, não conseguem imaginar a mãe sem o namorado. “As duas faziam desenhos para ele, o colocavam como se fosse da família”, lembra Lia.

O primeiro encontro deve ser realizado de preferência fora de casa, e ser breve, de forma que as crianças tenham condições de equilibrar a dose da “defesa” – estando naturalmente mais abertas para conhecer o novo companheiro do pai ou da mãe. “O mais importante em qualquer caso é a harmonia, a noção de que o casamento parental – muito além do conjugal – é eterno, pois se não houver sincronicidade do pai e da mãe as crianças vão perceber e se sentir frustradas”, ressalta a psicóloga Ana Maria.

Seguindo este pensamento, o analista de sistemas Leonardo Testa faz questão de sempre conversar com a mãe de sua filha Marina, de sete anos, quando começa a namorar. Filho de pais divorciados também, ele sabe muito bem como o alinhamento da postura do pai e da mãe é essencial para a segurança dos pequenos. “Eu certamente não gostaria que minha filha passasse pelo que eu passei e por isso eu e a Cris [ex-mulher de Leonardo] conversamos muito quando começamos um novo relacionamento”, conta ele.

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