Ela, Ele

Ela já tinha cansado de contar quantas vezes ficou em claro pensando nele. E quando dormia, ele a acompanhava em seus sonhos. Ela não podia sentir o perfume dele no meio da rua, olhar um ovomaltine com leite em pó, ver o filme ‘’onde os fracos não tem vez’’, ler suas conversas gravadas no msn , que só saiam lágrimas em seus olhos.
Ela não podia pensar que tudo acabou mesmo antes de ter começado, e perceber que o sentimento só crescia mais. Ela pensava nele o dia todo, todo dia. Ficava pensando nos sorrisos, nas conversas, nas que foram reais e aquelas inventadas em sua cabeça. Pensava como poderia ter sido, se tivesse arriscado mais, falado mais, pensado menos. Poderia ter roubado um beijo, ter dado um abraço inesperado, ter falado simplesmente: saiba que gosto muito de você. Talvez, se isso tivesse acontecido, ela não estaria sofrendo muito hoje. Ou não.
Talvez estaria sofrendo mais. Mas, ela nunca saberá. Nunca saberá se ele ainda pensa no perfume dela, na sua risada sempre escandalosa, no seu olhar perdido, porém encontrado sempre nele. Não saberá se ainda olha as fotos deles juntos, se ainda pensa na sua mão pegando na dela a esquentando do frio, se ainda pensa quando olha algum filme ou se pensa quando simplesmente não tá fazendo nada. Ela nunca saberá.
E enquanto isso, ela ainda pensa nele.

Ela é realista, mas ao mesmo tempo, esperançosa. Ela sente agonia, impaciência, ansiedade que parece não ter fim. Ela quer se livrar dessa prisão, mesmo escondendo a própria chave no coração. E o tempo continua passando. Ela vive, conhece, se arrisca. Tenta novos sentimentos, novas lembranças, mesmo estando ancorada nas antigas. Ela gosta, se atrai, pois o seu lado racional consegue gritar mais alto no meio de todo esse barulho, mesmo achando que esse sentimento tome todo o seu corpo, intensamente, até pra sempre. E ele...ah, ele talvez sinta, talvez ame, talvez lembre, talvez já tenha esquecido...ela nunca saberá.
Mas uma coisa é certa: quando ela pensa em amor, automaticamente é nele que ela pensa, mesmo ele pensando em alguém por vir ou em ninguém, tentando talvez decifrar o que será sentí-lo. É sem explicação.
Mas por não haver respostas pra isso, é que ela consegue responder todas as dúvidas e ironias daquilo que é mais amaldiçoado, e ao mesmo tempo mais desejado: o amor.