domingo, maio 16, 2010

Olhos




Por André Lenz - 12/03/09

No exato instante em que ela disse as poucas palavras foi que senti o frio. Não um frio causado por temperaturas climâticas ou termodinâmicas, mas aquele frio intenso correndo por todo meu interior quase que congelando por inteiro a aorta do meu coração.
Um misto de festa de final de ano com presente fora de época invadiu meus pensamentos e por aquele misero instante só consegui mirar em seus olhos e sentir a profundeza de sua alma.
Emudeci estático como se tivesse esquecido todas e qualquer palavra que um dia aprendi, mas ao mesmo tempo não precisava dizer nada pois meu olhar estava mais cheio de emoções que uma coleção inteira de Willian Shakespeare e a serenidade da minha face já dava idéia de tamanho sentimento.
Na comunicação um olhar é mais sincero do que as palavras, mais verdadeiro, e ali estavamos nós dois conversando sem nada a dizer, sentindo um ao outro e recebendo apenas um olhar.
Foi então que o tempo parou e o relógio pendurado do outro lado da sala não mais espalhava o barulho dos ponteiros pelo ambiente. As corujas mantiveram sua ultima piada ali na árvore perto da sacada. O rosto dela ficou quase que um busto de uma deusa grega e naquela fração de segundo eu consegui ver.
Vi seus lábios semi carnudos roseados apenas por um desses cosméticos discretos, seu cabelo com alguns fios perdidos por entre sua testa branca e delicada. Seus olhos eram portais deixando o mais profundo poço a menos de um palmo de distância enquanto se dirigia direto a mirar meus lábios.
E no momento em que o tempo voltou a andar senti um impulso e coloquei minha mão sobre a dela, mas não de uma vez, dedo por dedo foi galgando aquela pele suavemente suada pela intensidade do momento.
Olhei em seus olhos e depois olhei para seus lábios que estavam acolhidos porque ela estava a morder gentilmente seu lábio inferior numa legitima demonstração de desejo. Minha cabeça levemente inclinou-se próxima a sua, suficiente para que eu pudesse colocar minha mão em seu pescoço, por trás dos cabelos, e no mesmo instante senti-la arrepiar-se.
Beijei seu pescoço e ela sentiu minha respiração aproximar-se cada vez mais, na bochecha, no canto do lábio e enfim ficar frente a frente com sua boca.
Levemente encostei meu lábio no seu como que com gostinho de quero mais até que por um impulso ela com sua mão em meu pescoço me puxou a um ardente beijo de lingua.
Nossos olhos fechados, nossas bocas entrelaçadas e apenas aquele momento no mundo todo pois o resto não improtava mais.
Silenciosa e vagarosamente nossas bocas se soltaram e olhando em seus olhos pude completar aquelas palavras ditas por ela que desencadearam todo nosso momento.
E com a lua cheia mais brilhante no céu como testemunha eu apenas disse:
- Pra sempre....e sempre......
Uma noite, poucas palavras, um mundo e uma vida inteira para descobrir a felicidade.

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