sexta-feira, outubro 21, 2011
DANÇAR NA CHUVA.
Se eu tivesse que escolher uma palavra – apenas uma –
para
ser item obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra
seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar. Depois de infinitas
(e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos
a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprias,
cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos para o
espelho. Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos
à tão falada qualidade de vida que queremos – e merecemos – ter.
Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da
mulher moderna. Amizade, por exemplo. Acostumadas a concentrar nossos
sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas, acabamos
deixando as amigas em segundo plano. E nada, mas nada mesmo, faz tão
bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas. Ir ao cinema
com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora
para voltar, compartilhar uma caipivodca de morango e repetir as
histórias que já nos contamos mil vezes – isso, sim, faz bem para
a pele. Para a alma, então, nem se fala. Ao menos uma vez por mês,
deixe o marido ou o namorado em casa, prometa-se que não vai ligar
para ele nem uma vez (desligue o celular, se for preciso) e desfrute
os prazeres que só uma boa amizade consegue proporcionar.
E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu
vocabulário duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano
feminino: pausa e silêncio. Aprenda a
parar, nem que seja por cinco
minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por
dia – não importa – e a ficar em silêncio. Essas pausas
silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes de uma
decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos,
reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso.
Também abra
espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo
rir. Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma
mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser
banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na
locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um
encontro com aquela amiga engraçada – faça qualquer coisa, mas
ria. O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos
reconcilia com a vida.
Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam em regime o
tempo todo costumam ser péssimas companhias. Deixe para discutir
carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do
endocrinologista. Nas mesas de restaurantes, nem pensar. Se for para
ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e olhando para a
sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e inveja, melhor
ficar em casa e desfrutar sua salada de alface e seu chá verde
sozinha.
Uma sugestão? Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra
que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza.
Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber se
comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir.
Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se
colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser
tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde
trabalha, em casa, no supermercado, na academia.
E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser
indissociáveis da vida: sonhar e recomeçar. Sonhe com aquela viagem
ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que você ainda
vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem que um
dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando o Richard
Gere... sonhar é quase fazer acontecer. Sonhe até que
aconteça. E
recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa,
nos relacionamentos familiares. A vida nos dá um espaço de manobra:
use-o para reinventar a si mesma.
E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a
palavra perfeição. O dicionário das mulheres interessantes inclui
fragilidades, inseguranças, limites.
Pare de brigar com você mesma
para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional
que sabe tudo, a esposa nota mil. Acima de tudo, elimine de sua vida o
desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas,
cabelos que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni.
Mulheres reais são mulheres imperfeitas. E mulheres que se aceitam
como imperfeitas são mulheres livres. Viver não é (e nunca foi)
fácil, mas, quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca
da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito
mais possível.
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