Parece que nada mudou, apesar de eu ter me transformado tanto nesses
anos. Agora, estamos frente a frente e sinto meu coração derreter como
derretia há anos. Me encontro em frangalhos, te encontro com o sorriso
mais lindo que já vi. E me pergunto: até quando esse sentimento vai me
perseguir?
Ando um pouco apatetada, quando penso em você lembro de como nossos
caminhos não se encontraram. As respostas insistem em sair correndo,
tento alcançá-las, mas algo me para. Talvez seja o pouco de vergonha na
cara que me restou, talvez seja minha prudência dizendo chega. Não sei,
procuro afastar tudo que possa te manter longe das minhas memórias.
Não sei ao certo se toda essa ideia romântica de encontrar a pessoa
certa serve para mim. Sou um desajuste, uma página vazia. Queria poder
ser feliz para sempre, então penso será que alguém é mesmo feliz para
sempre? Por que aceitamos e queremos comprar essa verdade? Não seria
mais fácil ver as coisas exatamente como elas são? Por favor, não me
entenda mal, só quero que você saiba que nem todo mundo nasceu
capacitado para a tal felicidade. Muitos têm problema de visão e/ou
interpretação. Outros tantos querem uma felicidade na forminha de gelo,
coisa que não existe, nada é como nos nossos moldes mentais.
Nós acabamos nos perdendo e não há nada que possamos fazer para o tempo
voltar. O tempo é impiedoso, urgente. Ele não quer esticar a mão e
ajudar os necessitados, o tempo é egoísta. Por isso, nada mais nos
resta. Não, eu não vou lamentar, não vou lembrar do tempo bom, mesmo por
que a memória é traiçoeira, ela insiste em nos mostrar somente o que
foi adocicado. A memória nega a luta, a lágrima, a memória não aceita a
tristeza e a falta de cor.
Por favor, deixe pra lá, não perca seu precioso tempo com essas palavras
tolas. Sei que você não deu a mínima no passado, não é agora que vai
resolver voltar atrás e me enxergar como sempre fui. Mas não te culpo.
Antigamente, eu não me via como realmente sou. Abri a porta. Espero que o
que restou de nós dois fuja de casa.
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