sexta-feira, outubro 19, 2012

Feliz por Completo


Por André Lenz

Fico pensando hoje na minha situação. Esse meu coração gelado que não se apaixona de nenhum jeito. Tão exigente! Então converso com as pessoas e muitas acham o máximo eu ser assim e gostariam de ser igual. De ter controle do coração e não sofrer por amor.
Antes eu achava isso o máximo em mim também. Achava super legal não se apaixonar e não sofrer por ninguém, não pensar em ninguém ao ouvir uma música romântica, não ficar com o coração apertado ou suscetível a decepções, mas depois de tanto tempo dessa forma, hoje penso diferente.
Lembro quando ainda era inocente, na época em que meu coração ainda não havia se machucado tanto pra hoje estar dessa forma. Lembro da minha época de colégio quando era sempre apaixonado por alguém. Eu estudei num colégio do maternal a quinta série e sempre fui apaixonado até a quarta série pela mesma menina, Carolina Reis. Nossa a coisa mais fofa desse mundo e há alguns anos atrás eu a encontrei por acaso em Sampa e ela continua linda! Mas voltando, lembro até hoje daqueles olhos azuis, daquele corpinho frágil e miudinho com uma voz bem calma quase sussurrando, tão linda, tão fofa que dava vontade de apertar até esmagar!
Nossa, lembro de falar pra meus primos que tinha uma namorada, mas ela não sabia. Lembro de pedir pra ir ao banheiro toda vez que ela ia só pra esbarrar no corredor da escola, só ela e eu. Lembro de escrever corações com meu nome e o dela dentro ou de ouvir uma música romântica e ficar pensando horas a fio naquela guria. De brincar de menino pega menina no recreio e sempre ficar perto dela só pra deixá-la me pegar. Paixão adolescente não correspondida, lógico.
Na quinta série a minha paixão era uma aluna nova chamada Tatiana Vila. Morena, olhos negros e diferente da Carol. Era toda mandona, briguenta, do tipo que batia nos guris o tempo todo. Nossa! Pirei com aquela beleza e energia. Uma vez a segui de longe na saída do colégio só pra saber onde morava e dois dias depois tinha feito um chaveirinho à mão com um coração dentro e o nome dela e lembro de ter deixado na caixa de correio com uma rosa comprada com o dinheiro economizado de três lanches de recreio. Que felicidade a minha de vê-la com o chaveiro pendurado na mochila três dias depois. Fiquei uma semana sem dormir de felicidade, mas nunca tive coragem de dizer a ela sobre meus sentimentos.
Agora meu primeiro amor mesmo foi em outro colégio. Lembro de ter visto a Flávia na primeira semana de aula naquele novo colégio e de já me apaixonar por ela. Eu na sexta, ela na quinta e todo dia no intervalo das aulas corria até a porta da sala de aula pra espiar no corredor a sala da quinta na esperança de que ela também estivesse ali. Lembro de sempre sentar perto dela e das amigas no recreio só pra escutar aquela loirinha de cabelos ondulados e pele branquinha falar alguma coisa que de repente pudesse me ajudar.
Músicas românticas, pensamento o tempo todo nela, vontade todo dia de chegar cedo na escola só pra olhar em seus olhos e começar o dia feliz. Então conheci o primo dela e aos poucos fui me entrosando pra só depois de seis meses de paixão fazermos uma excursão de carnaval e ali me aproximar de vez. Foi quando percebi que não só eu, mas ela também havia reparado na minha forma de tratá-la tão bem e tão diferente de todos. Foi nos pequenos passeios nas trilhas do acampamento quando sempre pegava uma flor bonita e entregava em suas mãos ou colocava em seu cabelo, ou então de dar um jeitinho de pegar na mão dela quando a trilha ficava escorregadia e esperar a noite chegar na hora das brincadeiras de roda promovida pelos monitores, lembra? Aquelas de bater palma, cantar musiquinha, escolher parceiros, sim, sou tão velho assim!
Bons tempos.
Depois daquele acampamento era de mão dada pra cima e pra baixo, bilhetinhos em formato de coração, sempre sentados um do ladinho do outro escondendo as mãos dadas no sofá na frente dos pais. A Flávia foi meu primeiro amor, minha primeira paixão e quando tudo acabou sofri de chorar horas durante a noite, me afundar em músicas românticas no escuro do meu quarto por meses, sim, meses. Foi o maior sofrimento da minha vida. Nunca tinha sofrido tanto por alguém.
Alguns namorinhos foram, voltaram e o último mais marcante foi meu último suspiro de uma vida romântica e ingênua. Lembro que ainda com dezessete anos me apaixonei novamente na faculdade. Ainda sobrava um pouco daquele negócio de olhar e se apaixonar sabe? Não à primeira vista, mas quase.
Samara o nome dela. Corpo escultural, jeitinho de menina, cabelos longos e lisos que me deixavam estático quando ela passava no corredor. Naquela época eu participava do diretório acadêmico e conseguir o telefone dela foi questão de procurar no cadastro do sebo que a gente promovia pra vender os livros da facul dos anos anteriores.
Telefone na mão, mas não liguei. Foi daí que comecei a matar aula pra ficar no bar por que dava entrada para o estacionamento e descobrir qual era o carro dela. Depois disso todo dia eu deixava uma rosa de uma cor diferente no pára-brisa do carro dela e isso a deixou doidinha pra saber o autor de ato tão romântico!!!
Entrou em cena minha amiga Bianca, superpaixão da minha vida, amigona mesmo e foi falar com ela dizendo que sabia quem era. Lógico que tive que me afastar da Bianca por uma semana e quando passávamos um pelo outro, só dávamos uma risadinha porque sempre atrás da Bianca estava a Samara olhando escondidinho tentando descobrir quem era.
Até que a Bianca disse pra ela: “Ele está te esperando no carro. Vai lá!” E quando ela chegou, eu estava ali parado, com cara de bobo, segurando um buquê de rosas de várias cores e um ursinho de pelúcia.
Liguei algumas vezes. Marcamos de sair, mas sempre quando chegava na hora alguma coisa acontecia e não dava certo. O agradecimento que recebi foi somente um elogio da amiga dela por fazer algo tão especial e tão marcante. E só.     Acho que foi daí que começou minha revolta e minha revolução psicológica. Lógico que no currículo tomei várias vezes na cara, várias vezes mesmo. E a cada tombo me levantava mais forte. Ganhei força também com meus problemas. Minha vida em si, conturbada, família, tudo. O fato de toda vez fazer as coisas por mim, sem ajuda, me trancar, fechar pra balanço para por a casa em ordem e superar tudo sem a ajuda de ninguém. Isso me fez forte.
E agora volto no início para por fim entender que antes o que era motivo de orgulho, hoje é motivo de tristeza por ter esse coração tão gelado, de não conseguir me apaixonar quase que à primeira vista como acontecia quando era mais jovem. De ver uma mulher linda e às vezes tê-la em meus braços e fazer naquele momento com que ela se sinta a última mulher do mundo, mas depois do momento não sentir nada em meu coração, nem um friozinho na barriga sequer, e isso dói.
Meu coração na verdade não é gelado, na verdade ele tem um infinito de sentimentos como vi em meu filme preferido, “Multiplique o infinito, adicione as estrelas e você terá apenas um mínimo vislumbre do amor que tenho guardado”, mas a questão e tirá-lo de lá. É conseguir pular a muralha em volta e libertar um gigante louco para sair.
Vou passando cada dia deixando um pouco desse amor com meus amigos. Sendo o melhor que posso ser. Vou deixando meu amor com cada mulher que, mesmo por um momento, eu fiz feliz. Vou doando esse amor pra minha família, espalhando gotas por onde passo e sendo uma pessoa boa com qualquer um que seja. Sendo sincero, falando sempre o que se passa no meu coração, não mentindo nunca por mais doída que seja a verdade. Sendo um livro aberto e abrindo meu coração com todos, nunca dando esperanças falsas pra mulher nenhuma inclusive sempre deixando claro o risco que ela está correndo em ter “momentos” comigo e nunca brincando com os sentimentos. Sendo o mais transparente possível mostrando que nunca vou sentir por ela, sempre com o maior respeito do mundo que qualquer mulher merece.
Tenho meus momentos em que a solidão aperta e que qualquer beijo de novela me faz chorar, mas sempre tenho minha alegria e meu sorriso no rosto porque esses momentos são só meus e só Deus consegue vê-los. Tento de vez em quando me fazer acreditar que estou apaixonado. Tento pensar em alguém ouvindo “a“ música. Mas sempre passa e tais pensamentos somem com uma rapidez de segundos e assim vou vivendo minha vida, deixando um pouco de carinho por onde passo e sendo feliz fazendo os outros felizes. Mas eu (forte suspiro) ainda não sou feliz por completo.

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