segunda-feira, março 13, 2006

Telefone

Por André Lenz

Olho para o telefone e fico esperando. Na verdade esse minuto é apenas mais um insignificante instante entre as horas que duram minha agonia aqui parado, jogado aos meus mais delirantes pensamentos de solidão.
A casa novamente está vazia, ela fica cheia apenas nos meus pensamentos, o barulho imaginário de pessoas ao meu redor me atormenta e não me deixa dormir e isso me enlouquece a cada minuto de sono perdido, porque quanto mais acordado eu fico, mais meu sofrimento se estende e liberta minha imaginação para pensamentos nocivos.
Olho para o telefone e tento imaginar quando ele vai soar sua campanhia redentora, que irá me tirar deste abismo e me projetar novamente para a vida, mas ele continua ali, mudo, sem trocar uma palavra comigo e assim estendendo esse meu sofrimento interminável em busca de uma saída, ou rumo à total perdição.
Estou cansado de esperar, meus olhos fraquejam a cada minuto e meu corpo é tomado por um cansaço enorme, como se eu tivesse lutado a noite inteira comigo mesmo e, por incrível que pareça, eu perdi. Meus lábios não querem se movimentar nem por um gemido, nem por um sussurro, eles querem apenas descansar porque não agüentam mais pedir e pedir........
Minhas pernas não querem me levar a lugar nenhum porque elas não agüentam mais procurar o que se perdeu, o que ficou para trás e de alguma forma foi esquecido.
O telefone continua lá, estático. A vontade é quebrar tudo ao meu redor e extravasar essa raiva que me domina e que aumenta a cada segundo deixando minha loucura mais e mais aguçada e sentindo um prazer sádico de sofrimento.
Talvez eu queira sofrer, talvez o telefone conspire para minha insanidade, talvez ele esteja desligado. Talvez eu esteja e por mais que isso possa parecer claro, me acomodei e não quero levantar, quero continuar aqui sofrendo sozinho essa perversão do abandono, olhando fixo para aquele aparelho ridículo e insignificante.
Não estou mais em mim, nem sei mais quem sou, nem sei o que quero, apenas me deixe aqui parado, deitado ou então me tire brutalmente porque eu não tenho mais forças e não quero mais brigar.
O desgraçado continua mudo e eu estou já à beira de um colapso, tudo está girando em torno de mim e parece que todo o peso do mundo veio cair diretamente em minhas costas e agora a fúria já domina todo o meu ser e não vou mudar isso. A cada minuto que passa ela corre mais e mais pelo meu sangue e penetra em cada parte do meu corpo me possuindo por completo.
A noite está acabando e o que eu apenas queria era descansar e ficar em paz, mas o mundo não vai me deixar em paz! Talvez eu deva descansar para sempre e acabar com toda a fúria e sofrimento que rega meu peito.
O telefone toca.
Olho com raiva para aquele imbecil que me deixou louco e que tirou meu sossego, que tirou minha vida e fico pensando se realmente vale a pena atender.
Êxito. Ele toca novamente.
Agora todos os meus pensamentos pararam e me desliguei do mundo prestando atenção apenas ali, no canto, no barulho que se repete num intervalo pequeno mais suficiente para se eternizar em meus pensamentos, para avaliar se todo esse sacrifico vale a pena!
Com a mão em cima do telefone todo o sofrimento vai embora e toda a raiva se dissipa como em uma mágica sem sentido e sinto que agora estou novamente no mundo, sinto que existe uma esperança e que nem tudo está perdido.
Minha voz se acalma, meus olhos arregalam, minha boca fica seca e cada vestígio de raiva vai me abandonando e escorrendo pelo chão, e agora uma anciosidade me toma por completo e toda a minha força se concentra ali na minha mão em cima daquele telefone. O maldito, o imbecil, o salvador.
Nesse curto mais eterno momento eu paro. Decidido a não atender espero ele tocar ate parar. Coloco o telefone no lugar e calmamente volto para onde estava e nunca devia ter saído porque nada mais importa.
Com certeza era engano.



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Um comentário:

PP disse...

Sou um grande fã e fiel seguidor do teu blog... identifico-me muito com ele...

Os meus parabéns... continua a postar, pois está muito bom.

Abraço, Pedro