quinta-feira, novembro 10, 2011

Lágrimas contidas


Por Milka Lopes
 

Depois de disfarçar tudo o que ela sentia sua tão sonhada hora chegara. O dia havia terminado, ela conseguira enfim chegar em casa, em seu quarto companheiro e cúmplice de tantas horas de solidão.
Ela se despiu lentamente foi até o espelho e ficou ali por alguns instantes observando aquele rosto que ela conhecia tão bem, tentou esboçar um sorriso, mas não deu.
Ali estava ela despida de todas as formas, nua diante do espelho e diante de si mesma, todas as suas emoções estavam em evidência, ela não precisa escondê-las de nada e de ninguém, poderia ser apenas ela naquele instante.
Ela queria gritar, pedir ajuda. Mas a quem? Quem sabe o seu anjo da guarda pudesse lhe mostrar uma saída, lhe soprar no ouvido algumas palavras de conforto, quem sabe?!
Tudo o que ela poderia fazer agora era chorar (porque há momentos na vida da gente em que a única coisa que se pode fazer é chorar), chorar todas as lágrimas que conseguira esconder durante aquele enfadonho dia.
Caminhou até o banheiro e ligou o chuveiro, deixou que aquela água quente aquecesse o seu corpo, deixou-se relaxar e sentir aquele momento. Enquanto a água descia do alto da sua cabeça até os seus pés, todas as lágrimas contidas foram descendo, uma a uma. Desciam quentes como a água do seu banho e morriam ao cair naquele chão frio.
Durante esse choro silencioso e sentido, ela fez promessas a si mesma em silêncio, jurando-as apenas em seu coração, pois se um dia as quebrasse ninguém iria cobrá-la por não tê-las cumprido.
E assim ela sentiu-se um pouco mais livre, mesmo que apenas por alguns instantes.
Enquanto a água caía e lavava o seu corpo, ela também desejou que as suas lágrimas lavassem a sua alma...


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