Há quem tente amar com as ideias, mas isto só é possível da boca prá fora. Típico de quem não pode amar e nunca amou. Politizar o amor é a nova onda da Psicologia Social, do Serviço Social, da Sociologia e de todas as outras formas mal amadas de sociologizar o coração. As assistentes sociais, feministas, socialistas, reformistas, pós modernistas são especialistas da infelicidade geral e irrestrita da paixão. Criar uma ética para a paixão é como trocar os pés pelas mãos no Brasil, onde a lógica está nos pés e nos afetos, menos na consciência. O amor e a paixão não têm absolutamente nada a ver com a lógica e a razão. Seria como proibir o futebol e instituir o jogo do xadrez em todas as escolas do país! Se, a americanização das ciências sociais no Brasil individualizou o “social” e excluiu a razão coletiva, agora a latinização da Psicologia Social e da Sociologia produziu o mesmo efeito, excluindo a paixão individual Assim, não é permitido nada que seja diferente do coletivo. Confunde-se individualismo com individualidade.Mais para fascismo do que para fascínio, o encanto pela massa e pela “igualdade” acabou indo aos extremos.Imaginem que não seria permitida a circulação de pessoas mais ricas de amor, pois todos temos que ser ser mais pobres de amor. Vou relembrar aqui um projeto de ação social em prol de crianças abandonadas que são acolhidas pelas Casas de Passagem do Governo. Em época recente, foi criada a figura dos “pais sociais”. Estes viveriam nessas casas como cuidadores das crianças abandonadas. Mas, como seria um amor igualitário? Como estes pais distribuiriam justamente porções de amor para todos? Como estas crianças se sentiriam como “criança-cidadã” e filhos de pais sociais sem carne e osso?
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O dia amanheceu…..
Bom dia pai social, disse a criança cidadã.
Bom dia criança cidadã, respondeu a mamãe social.
(C.C.) O que teremos hoje para o café?
(M.S.) Vamos esperar as outras crianças cidadãs. O que é para um é para todas.
(C.C) Mas eu estou com fome. Acordei mais cedo, fiz minha lição antes de todos e vou jogar futebol, por isto eu quero comer agora.
(M.C) Esta é uma forma individualista de ver a fome. Receberá a sua parte igual a todos na hora e no lugar. Está no estatuto da casa e decidimos isto na majoritária.
(C.C) Posso saber o que temos para comer?
(M.C.) A entrada será de petiscos de Direito. Pegue um pedacinho só. É um para cada um. O direito é de todos.
(C.C) Mas vocês já tomaram café?
(M.C.) Claro que sim! Nós nos debruçamos sobre este tema e na trajetória das tarefas historicamente construídas, o estatuto decidiu quem toma café antes.
(C.C) Mas mãe social! A minha fome é mais forte que as ideias.
(P.S) O homem é um ser histórico-cultural. Essa é uma concepção biologizante da fome! Espere os outros e ponto final.
(C.C.) Pai social! Você faz sexo com a mãe social?
(P.S.) Criança cidadã! Isto é uma abordagem funcionalista das relações humanas. Você está alienado pelas teorias freudianas. Nossas relações sociológicas são mais necessárias que nossas relações sexuais!
(C.C) Pai social. Eu sou um menino ou uma menina?
(P.S.) Gênero é estigma. Você é igual a todos. Uma criança-cidadã!
(C.C) Eu não tenho um nome? Por que não me chama pelo nome e vive me chamando de “camarada” de “companheiro”? Você gosta de mim?
(M.S.) Criança cidadã! Nosso amor é igualitário. Amamos você como a todos.
(C.C) Entendi! Então é um amor coletivo como o do SUS. Mas vocês e os camaradas da bancada, não usam o SUS quando ficam doentes. Por quê?
(M.C.) Criança cidadã! Um dia você vai aprender a socializar os sentimentos e politizar teus impulsos, tuas paixões. Tudo passa. Tudo muda inclusive a tua fome. O homem é um ser em movimento!
(C.C) Minha barriga está se movimentando. Estou vesgo de fome. Estou vendo tudo colorido.
(M.S.) Esta é uma visão burguesa de mundo. Somos todos iguais, brancos e afro-descendentes. O capitalismo fez você enxergar coisas. Produz necessidades desnecessárias. Visões coloridas da realidade! Nuances supérfluos do mundo. Você precisa alimentar tua cabeça com idéias. A vida é crítica! É branca e preta. Não é bela e nem colorida.
(C.C.) Estou com fome! Por que mamãe social não tem leite?
E lá se foi a criança cidadã, mais uma vez, pedir comida e amor, de volta para a rua.
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