quarta-feira, junho 06, 2012

Casamento Entre Primos


Casamento entre primos
Fotos:TV Globo/Renato Rocha Miranda
Na trama de Silvio de Abreu, Fátima e Sinval não só descobriram que nasceram um para o outro, mas também fazem parte da mesma família. E vivem o dilema da possibilidade de terem filhos com uma doença genética grave, física ou mental.

O casamento entre primos era bastante comum e ainda continua principalmente em cidades e povoados pequenos do Brasil e Europa. Durante a Idade Média, a união entre homens e mulheres da mesma família fazia parte do cotidiano. Os matrimônios consangüíneos eram uma forma da nobreza não ter que dividir a sua herança com plebeus ou outras famílias. Tribos indígenas, como a do Carajás até preferem que o casamento seja feito entre primos de segundo grau a fim de assegurar os laços familiares.
Mas não foi por conta disso que Eliana Vieira da Silva, 47, se casou com o seu primo materno de segundo grau, isso há 26 anos. "Por parte dele foi amor à primeira vista", revela. Os dois se conheceram no fim da adolescência quando a família dele se mudou do Paraná para São Paulo. "Com a convivência desse primo que até então não conhecia, ele começou a me paquerar, mas no início eu não dava muita bola. Nós tínhamos personalidades bastante diferentes", conta. A família dele não concordava muito com o casamento, principalmente pelo fato do casal pensar em ter filhos. "Por isso procuramos um especialista e fizemos exames não só de sangue, mas também cerebral, enfim, foi algo bastante completo. E o médico disse que só poderia ter alguma complicação no terceiro ou quarto filho", diz.
Após o primeiro filho, os dois receberam a notícia de que primos consangüíneos da família haviam gerado um filho com problemas neurológicos. Foi então que Eliana pensou em não engravidar novamente. Entretanto, mais de dez anos depois, ela passou pela segunda gravidez sem grandes problemas, após procurar um especialista.
O tema sobre casamentos consangüíneos é controverso, mas de forma geral as possibilidades de que filhos de primos consaguíneos nasçam com alguma doença genética acontece por conta de três tipos de herança, conforme Viviane Scantamburlo, ginecologista e especialista em Reprodução Humana.
"Quando há uma mutação genética que se manifeste no homem e na mulher, ou seja ambos são recessivos e tem o mesmo gene daquela doença, a criança tem 50% de chances de desenvolver esse mal. No caso da herança dominante, quando basta o gene de um dos dois, essa porcentagem cai para 25%", explica a ginecologista.
Por exemplo: quando o homem tem o gene da cegueira e a mulher também, que causa o mesmo tipo de mal, o filho desse casal tem a possibilidade de herdar dois genes para essa doença. Isso não acontece em casais cujas famílias são distantes porque há uma mistura de genes, assim as possibilidades que sejam portadoras dos mesmos genes recessivos são bem menores.
Conforme Viviane, filhos de primos consangüíneos podem desenvolver a fibrose cística, um distúrbio nas secreções de algumas glândulas, responsável por comprometer a passagem de ar nos pulmões, retendo bactérias e causando infecções respiratórias. "A maior parte das pessoas desenvolvem o grau leve e levam uma vida normal, mas há riscos de morte", ressalta. A especialista lembra que por conta da miscigenação de genes, os casais de primos brasileiros correm menos riscos.

Distrofias musculares, síndromes motoras e neurológicas ou mesmo dificuldades de aprendizagem, cegueira e problemas de audição também estão relacionados. Por isso Viviane alerta para que casais de primos procurem sempre um geneticista antes de terem filhos. Ele vai analisar a árvore genealógica da família e estudar a manifestação de genes dominantes e recessivos. "Em colônias pequenas e casamentos religiosos, como os judaicos, por exemplo, quando há um maior número de primos consangüíneos, também são analisadas as doenças em comum desse grupo". Mas, em muitos casos, as crianças nascem saudáveis, sem grandes problemas. "Meus avós, por exemplo, são primos e tiveram oito filhos saudáveis", finaliza a especialista.

Por Juliana Lopes

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