quinta-feira, agosto 04, 2011

Navalha na Carne


Por Milka Lopes

Um coração que sangra, que geme e que grita de tanta dor.
Palavras que vão e que vêm em ondas sonoras, gritantes, torturantes.
Ressoam como ecos e cada eco é como um novo corte, uma nova ferida.
E o coração sangra, pulsa, bate fraco e ao mesmo tempo acelera.
Na tentativa de se desvencilhar dessa dor, dessa navalha que o rasga.
A alma parece que não vai agüentar tanta dor, tanta decepção.
Parece uma tábua de tiro ao alvo que não tem mais lugar para furar.
Cada dia que amanhece, cada dia que acaba, parece ser um início sem fim.
Como apagar as cicatrizes? Como não deixar marcas?
As palavras ainda estão atravessadas em meu peito.
Apertando-me tanto, quase a ponto de me sufocar.
As lágrimas são contidas, mas teimam em cair na hora errada.
Sinto os olhos marejados em momentos impróprios.
Temo desabar a qualquer momento, me transformando num dilúvio.
Tenho tanto o que chorar...
E quando isso acontecer, será como uma chuva torrencial.
Sem dia nem hora pra acabar.
E que essas lágrimas lavem a minha alma, molhem a sequidão do meu deserto.
E tire nem que por alguns instantes, o peso da minha solidão.

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