Por André Lenz
Foi no alto
de suas quase três décadas que ele chorou. Sentado na sala escura com a pouca
iluminação que cortava a cortina vinda do poste de fora, num silêncio
ensurdecedor interrompido apenas por sua respiração ofegante de seu pranto.
Sua
tristeza remetia a sua solidão, tão clara, tão aparente, mas tão escondida que
se perdia entre o ser imaginário e o próprio real, entre a verdade ostentada mas
não sentida, daquelas em que sempre queremos acreditar.
Suas mãos
seguravam as lágrimas que insistiam em molhar o tapete do chão da sala
abarrotado por zilhões de kilos em apenas uma gota, peso aparente, irreal, mas
verdadeiro.
Seus
pensamentos derretiam-se em erros, em culpa, em busca constante pelo rumo ou
direção errado em que ele nem perdera a entrada, ou talvez fosse à saída?
Olhos
vermelhos e cansados.
Sua
respiração estava pesada, seu choro não mais emitia som, pois seu pulmão estava
dilacerado, ou era o coração?
Um choro de
entrega, um choro de paz que trazia o mais profundo gozo em seu interior, pois
de agora em diante se entregara aos mais tênues pensamentos reflexivos que
apenas o faziam desistir.
Na verdade
ele nunca desistira de si, mas sentia que o mundo desistira dele, que o amor
desistira dela e agora sua mais sensata atitude remetia a desistir de si
próprio, pois tentou cultivar seu jardim, mas as borboletas não apareceram.
Sua luta
terminara, era melhor assim, porque procurar por algo bem escondido é difícil de
achar, ainda mais aonde o campo pra roubar a bandeira está no mundo todo, em
todos os cantos e lugares, em todos os olhares, em todos nãos e desprezos que
recebemos.
A
dificuldade no meio deste lixo todo é encontrar algo que valha a pena ser
resgatado. Acho que neste mesmo lixo me perdi para sempre, pois nunca vi uma mão
sequer a me segurar.
Planos,
metas, sonhos, nos traçamos por horas a fio e nos perdemos em pensamentos em
todos os momentos, mas de tudo isso, de todo esse tempo perdido, o que nos resta
é apenas uma noite escura.
Uma noite
escura e de solidão, aonde todos os momentos perdidos em sonhar se reduzem a um
chão, um tapete e a lágrimas sem fim, e perdemos tanto tempo para no fim
terminarmos na mais profunda solidão de um choro. Um choro de alma, do fundo de
uma alma perdida que sempre buscou mas nunca sequer encontrou o amor. O amor
verdadeiro.
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