Por Clarissa Correa
Um dos meus grandes defeitos é questionar tudo o tempo inteiro. Mesmo
que seja mentalmente. Deve ser essa a explicação para meu cansaço
extremo quando o sol começa a ir embora. É sempre assim: o sol vai
saindo, de fininho, alegre. A noite vem, tímida, acanhada. Junto com
ela, um cansaço impera.
Contrariando o time das librianas, meu lado decidido sempre fala mais
alto. Sei o que quero, estou ciente dos meus desejos, entendo que
preciso aproveitar o que a vida me dá. Não sei ser vou-não-vou, talvez,
isso-ou-aquilo. Eu quero isso, eu vou, é agora.
Não consigo deixar pra depois uma coisa entalada, não espero a hora
certa, nunca sei quando é um bom momento. Acho que a vida é muito breve
pra deixar pra amanhã um pedido de desculpa, um abraço, um eu te amo,
uma risada solta, uma calça apertada. Não vale a pena tentar afogar
emoções que querem sair nadando por aí.
A verdade é que eu não sei guardar meus sentimentos e sensações dentro
do bolso e viver como se nada estivesse acontecendo. Não consigo
disfarçar, tampouco fingir que não ligo. Acho que a gente deve minimizar
a chance do arrependimento, por isso falo que amo, falo que fiquei
puta, falo que quero, falo que não gosto, eu falo.
Não acho que tudo deva ser dito. Mas acredito que certas coisas não
podem passar em branco, elas precisam de um espaço no mundo e esse
espaço só surge através da fala, da escrita, do ato de colocar pra fora.
Tem coisas que não podem ficar guardadas, elas nasceram para deixar o
mundo mais humano.
Prefiro não guardar o que sinto pra não me arrepender. Eu não quero me
arrepender das coisas. É claro que não concordo com tudo que fiz e vivi,
é lógico que tenho coisas que prefiro deixar num canto qualquer, mas eu
não quero me arrepender, não quero aquela ânsia de vômito, aquele enjoo
chato que acontece quando a gente come o que não faz bem. Prefiro
vomitar tudo, por mais nojento que seja.
Não guardo mágoa, rancor, nojo. Um sentimento guardado vai criando uma
bola dentro do corpo. E ela vai aumentando com o tempo. Se torna dura,
estranha, sombria. Essas coisas dão câncer. Ressentimento estraga a
gente. O corpo e a alma. Tira o brilho dos olhos, dá um tom triste,
acaba com tudo.
Existem jeitos e jeitos de dizer as coisas. Não dá pra abrir a boca e
despejar palavras. Elas precisam se alinhar, uma tem que segurar a mão
da outra, fazer um carinho, prestar atenção, conversar. Elas precisam
dançar e sair da boca com leveza. Dizer tudo que pensa de uma forma
agressiva não é motivo de orgulho. Acho, inclusive, vergonho.
Sinceridade não é grosseria, muito menos falta de educação. Sinceridade é
ser fiel ao que você sente e passar isso para o outro da melhor e mais
bonita forma possível. Caso a emoção seja violenta, sinceridade é ser
fiel ao que você sente e passar isso para o outro sem a intenção de
magoar ou ferir. Sinceridade não é dizer o que pensa, mas cantar o que
sente. Simples assim.
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