segunda-feira, abril 08, 2013

Não guardar é a ordem

Por Clarissa Correa
Um dos meus grandes defeitos é questionar tudo o tempo inteiro. Mesmo que seja mentalmente. Deve ser essa a explicação para meu cansaço extremo quando o sol começa a ir embora. É sempre assim: o sol vai saindo, de fininho, alegre. A noite vem, tímida, acanhada. Junto com ela, um cansaço impera. 
Contrariando o time das librianas, meu lado decidido sempre fala mais alto. Sei o que quero, estou ciente dos meus desejos, entendo que preciso aproveitar o que a vida me dá. Não sei ser vou-não-vou, talvez, isso-ou-aquilo. Eu quero isso, eu vou, é agora. 
Não consigo deixar pra depois uma coisa entalada, não espero a hora certa, nunca sei quando é um bom momento. Acho que a vida é muito breve pra deixar pra amanhã um pedido de desculpa, um abraço, um eu te amo, uma risada solta, uma calça apertada. Não vale a pena tentar afogar emoções que querem sair nadando por aí.
A verdade é que eu não sei guardar meus sentimentos e sensações dentro do bolso e viver como se nada estivesse acontecendo. Não consigo disfarçar, tampouco fingir que não ligo. Acho que a gente deve minimizar a chance do arrependimento, por isso falo que amo, falo que fiquei puta, falo que quero, falo que não gosto, eu falo.
Não acho que tudo deva ser dito. Mas acredito que certas coisas não podem passar em branco, elas precisam de um espaço no mundo e esse espaço só surge através da fala, da escrita, do ato de colocar pra fora. Tem coisas que não podem ficar guardadas, elas nasceram para deixar o mundo mais humano.
Prefiro não guardar o que sinto pra não me arrepender. Eu não quero me arrepender das coisas. É claro que não concordo com tudo que fiz e vivi, é lógico que tenho coisas que prefiro deixar num canto qualquer, mas eu não quero me arrepender, não quero aquela ânsia de vômito, aquele enjoo chato que acontece quando a gente come o que não faz bem. Prefiro vomitar tudo, por mais nojento que seja.
Não guardo mágoa, rancor, nojo. Um sentimento guardado vai criando uma bola dentro do corpo. E ela vai aumentando com o tempo. Se torna dura, estranha, sombria. Essas coisas dão câncer. Ressentimento estraga a gente. O corpo e a alma. Tira o brilho dos olhos, dá um tom triste, acaba com tudo.
Existem jeitos e jeitos de dizer as coisas. Não dá pra abrir a boca e despejar palavras. Elas precisam se alinhar, uma tem que segurar a mão da outra, fazer um carinho, prestar atenção, conversar. Elas precisam dançar e sair da boca com leveza. Dizer tudo que pensa de uma forma agressiva não é motivo de orgulho. Acho, inclusive, vergonho. Sinceridade não é grosseria, muito menos falta de educação. Sinceridade é ser fiel ao que você sente e passar isso para o outro da melhor e mais bonita forma possível. Caso a emoção seja violenta, sinceridade é ser fiel ao que você sente e passar isso para o outro sem a intenção de magoar ou ferir. Sinceridade não é dizer o que pensa, mas cantar o que sente. Simples assim.

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