segunda-feira, abril 22, 2013

Olhos



Por André Lenz

 

No exato instante em que ela disse as poucas palavras foi que senti o frio. Não um frio causado por temperaturas climáticas ou termodinâmicas, mas aquele frio intenso correndo por todo meu interior quase que congelando por inteiro a aorta do meu coração.

Um misto de festa de final de ano com presente fora de época invadiu meus pensamentos e por aquele mísero instante, só consegui mirar em seus olhos e sentir a profundeza de sua alma.

Emudeci estático como se tivesse esquecido toda e qualquer palavra que um dia aprendi, mas ao mesmo tempo não precisava dizer nada, pois meu olhar estava mais cheio de emoções que uma coleção inteira de Willian Shakespeare e a serenidade da minha face já dava idéia de tamanho sentimento.

Na comunicação, um olhar é mais sincero do que as palavras, mais verdadeiro. E ali estávamos nós dois conversando sem nada a dizer, sentindo um ao outro e recebendo apenas um olhar.

Foi então que o tempo parou e o relógio pendurado do outro lado da sala não mais espalhava o barulho dos ponteiros pelo ambiente. As corujas mantiveram sua última piada ali na árvore perto da sacada. O rosto dela ficou quase que como um busto de uma deusa grega e naquela fração de segundo eu consegui ver.

Vi seus lábios rosados apenas por um desses cosméticos discretos, seu cabelo com alguns fios perdidos por entre sua testa branca e delicada. Seus olhos eram portais deixando o mais profundo poço a menos de um palmo de distância enquanto mirava meus lábios.

E no momento em que o tempo voltou a andar, senti um impulso e coloquei minha mão sobre a dela, mas não de uma vez, dedo por dedo fui galgando aquela pele suavemente suada pela intensidade do momento.

Olhei em seus olhos e depois olhei para seus lábios que estavam acolhidos porque ela estava a morder gentilmente seu lábio inferior numa legítima demonstração de afeto. Minha cabeça levemente inclinou-se próxima a sua, suficiente para que eu pudesse colocar minha mão em seu pescoço, por trás dos cabelos, e no mesmo instante senti-la arrepiar-se.

Beijei seu pescoço e ela sentiu minha respiração aproximar-se cada vez mais, na bochecha, no canto do lábio e enfim, ficar frente a frente com sua boca.

Levemente encostei meu lábio no seu como que com gostinho de quero mais até que por um impulso, ela com sua mão em meu pescoço, puxou-me a um ardente beijo apaixonado. Nossos olhos fechados, nossas bocas entrelaçadas e apenas aquele momento no mundo todo, pois o resto não importava mais.

Silenciosa e vagarosamente nossas bocas se soltaram e olhando em seus olhos pude completar aquelas palavras ditas por ela que desencadearam todo nosso momento.

E com a lua cheia mais brilhante no céu como testemunha, eu apenas disse:

- Pra sempre... e sempre...

Uma noite, poucas palavras, um mundo e uma vida inteira para descobrir a felicidade.

Um comentário:

Paulo Francisco disse...

Narrativa, descrição, tudo, tudo perfeito neste texto.
Muito bom, André.
Um grande abraço